Ela se admirava no espelho, se
olhava e por dentro gritava, pobre criatura de alma dilacerada, ajoelhada
diante de seu reflexo de olhos assustados, rosto pálido e perplexo, como ela
podia continuar a viver assim, estava cansada, ferida, e pelo amor destruída,
para o espelho suplicava, se humilhava, não queria mais ser enganada, sua
maldição a consumia, amar e ser preterida, gostar e ser enganada, apaixonar-se
e ser iludida, ela sabia que enquanto chorava mais um ciclo se cumpria, sombra
maldita, maldição infinita, o pássaro negro voltou a falar, seu reflexo
diferente, de rosto maldoso e sorriso audaz, aquela já não era ela, sua alma
doce e amante agora se tornara sensual e elegante, a inversão ocorreu,
novamente aprisiona a alma magoada e machucada no reflexo estava, diante do
espelho ali estava o espectro feliz e liberto, a outra face de Maria pronta a
se vingar, como um ser sem coração, fria como gelo, bela como um pavão, ela
ansiava pelo reencontro com aquele que a
machucou a ponto de derrubar, seu outro lado não queria, o amava e não podia
permitir que ela viesse a o machucar, no entanto ali estava preza, pela dor e a
tristeza de um amor falso e corrosivo, a outra face em despedida, levantou e
sorriu rapidamente, e sem pensar usou a mão para quebrar a prisão de seu outro
eu, a superfície refletida se partiu e despedaçou, daquilo nada sobrou,
finalmente ela encarou um pequeno pedaço, e naquele pequeno pedaço uma lagrima
caia, pois ali jazia o que de mim restara.
PAULO VICTOR S. MOREIRA (13/05/2015)