quarta-feira, 13 de maio de 2015

ROLETA RUSSA



Ela se admirava no espelho, se olhava e por dentro gritava, pobre criatura de alma dilacerada, ajoelhada diante de seu reflexo de olhos assustados, rosto pálido e perplexo, como ela podia continuar a viver assim, estava cansada, ferida, e pelo amor destruída, para o espelho suplicava, se humilhava, não queria mais ser enganada, sua maldição a consumia, amar e ser preterida, gostar e ser enganada, apaixonar-se e ser iludida, ela sabia que enquanto chorava mais um ciclo se cumpria, sombra maldita, maldição infinita, o pássaro negro voltou a falar, seu reflexo diferente, de rosto maldoso e sorriso audaz, aquela já não era ela, sua alma doce e amante agora se tornara sensual e elegante, a inversão ocorreu, novamente aprisiona a alma magoada e machucada no reflexo estava, diante do espelho ali estava o espectro feliz e liberto, a outra face de Maria pronta a se vingar, como um ser sem coração, fria como gelo, bela como um pavão, ela ansiava  pelo reencontro com aquele que a machucou a ponto de derrubar, seu outro lado não queria, o amava e não podia permitir que ela viesse a o machucar, no entanto ali estava preza, pela dor e a tristeza de um amor falso e corrosivo, a outra face em despedida, levantou e sorriu rapidamente, e sem pensar usou a mão para quebrar a prisão de seu outro eu, a superfície refletida se partiu e despedaçou, daquilo nada sobrou, finalmente ela encarou um pequeno pedaço, e naquele pequeno pedaço uma lagrima caia, pois ali jazia o que de mim restara. 
PAULO VICTOR S. MOREIRA (13/05/2015)

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