É estranho estar em
um mundo tão grande e não se sentir parte dele, é tão complicado estar inserido
em algo ao qual não pertence, é como ser uma plantar em um deserto, lutando dia
após dia para sobreviver a forte aridez, assim ela se sentia, tão doce e
gentil, frágil que tão fácil se feria, tola podia-se dizer, Alice, a tão feliz
Alice, rodeada de sonhos, vontades, ainda intocada pela maldade, queria
conhecer o mundo de verdade, conhecer a verdadeira liberdade, voar e viver a
real felicidade, respirar como seria a vida lá fora, longe daqueles preceitos
cheios de dizeres de como agir, ela só não queria ser como todos, só queria ser
ela mesma.
Tão inesperado como
uma chuva de verão ele veio, ele por ela passou, com aquele vil olhar a
devastou, com a mente a usou, e como uma chuva forte a molhou, ali estava o que
ela procurava, assas que a levariam tão alto quanto qualquer coisa, um voo para
as estrelas, sem muito pensar decidiu aquele naufrago desertar, ir atrás do que
parecia ser seu passaporte de entrada ao seu paraíso, em meio aquele sorriso
ela entendeu que já estava em um mundo perdido, desconhecido, novidades era
tudo o que o incógnito oferecia, aquele desejo de surpresa a varia, ela ainda
mais queria, ele cada vez mais a surpreendia, se a quisesse fácil a teria.
Tão perto ficaram,
faíscas lampejaram, aqueles olhares, ah aqueles olhares a queimavam, por dentro
ela fervia, a pele ardia, com as mãos ele a despia, gemidos ela não conseguia
evitar, ele a mordia, e lentamente o suor escorria, cheia de calafrios ela
sabia, não aguentaria, sua alma já exalava, revoltava, lutava, queria dela
sair, ele a provocava, incitava que fosse dele, nem precisaria, mesmo que
falasse seriam só palavras, seu olhar já mostrava, ele a luta já ganhava, sem
armas para se defender, aquele pecado veio a render, aos toques mais quentes
explodia, aos beijos mais pedia, ao prazer se rendia, ele mais intenso ficava
quando ela gemia.
A sua alma, era o
que ele queria, e ele a roubou ou será que ela a deu, pouco importa, ele levou
ela ao mais alto paraíso, trazendo torpor em sorriso, marcando cada momento,
abocanhando cada sentimento, ela sim sabia, aquele demônio a queria, sua alma
levaria, sua ultima joia se quebraria, aquele instante inebriante a consumia,
viciada por aquela droga, alucinada, acelerada ele a usava, é isso que ele
queria, ver até onde ela iria, e ela longe foi, tão longe que nem ele conseguia
mais voltar, perdido na imensidão que Alice podia lhe dar.
Garota de sorte, de
libido forte, o beijo da morte poderia ali ganhar e nenhum efeito iria lhe
causar, pois ela estava tão alto que nada podia lhe alcançar, tão rápido que
tudo podia mudar, tão mortal quanto veneno, aquela era Alice vivendo, em mundo
negro se reconhecendo, de prazer vertendo, a luxuria se misturando, dentro dela
tudo isso foi aos poucos entrando, ele a subjugando mal sabia que a ela se
ligaria, sua alma ele teria, mas nunca mais o mesmo seria, ela não sairia da
sua cabeça pois era diferente, surpreendente.
No fim daquele voo
ela ao seu mundinho teve que voltar, preferiu não olhar pra trás na despedida,
temendo arder em dor a ferida, aquilo tudo apesar de tão bom a machucou, um
corte que não podia ser visto, feito no mais intimo de seus sentimos, só ela
sentia, só ela sabia o que a saudade em si podia fazer, ela queria não pensar,
ela só queria esquecer, a chuva ao fim chegando, na memória ainda lembrando,
cada lembrança uma dor e junto um sorriso, confusa pensava no maldito bandido,
ladrão de sua alma, de seu coração, demônio encarnado, para sempre encrustado
na sua mente, antes que o ultimo relâmpago surgisse ele sobriamente lhe disse:
em qualquer momento eu serei o vento a tocar, a chuva será minhas mãos a te
molhar, o sol meu beijo a te aquecer, e no fim do dia, mesmo que nada dê certo
– ele prometeu – eu sempre serei teu.
Paulo Victor S Moreira (28/09/2014)